sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quantas Vezes Se Deve Perdoar o Irmão? Divórcio, Só Uma Vez!

Quantas Vezes Se Deve Perdoar o Irmão? Divórcio, Só Uma Vez!


Uma pessoa cristã que se divorciou pela primeira vez pode casar-se novamente? Não! Quantos divórcios podem ser perdoados? Quantas vezes alguém pode errar tentando escolher alguém para um matrimônio? E se ele já está em seu quarto casamento?

Certamente que rebaixar padrões para que eles se tornem mais acessíveis às pessoas não é uma prática sadia nem característica do Evangelho. É conformismo, isso sim, com os valores deste século. Mas perdoar quem se divorciou muitas vezes continua sendo conformismo diante das palavras do Cristo que disse que se deve perdoar “setenta vezes sete”? Sabemos inclusive que essa cifra exorbitante não deve ser entendida literalmente, mas simboliza um perdoar sempre (Mateus 18.22)[1]. Será conformismo tentar praticar o que Paulo diz sobre o amor, a longanimidade, bondade, paciência, coisas contra as quais não existem leis? (Gálatas 5.22-23). Quem pode legislar sobre o que Deus não legislou? Quem pode impor restrições quando Deus deseja a liberdade nos assuntos relacionados a longanimidade? Quem pode impedir uma igreja de perdoar “setenta vezes sete” um mesmo pecado, seja um divórcio ou seja ele qual for?

Qual seria a pena da lei para o pecado de Davi em sua época? “Todo aquele que fizer alguma destas abominações, aqueles que assim procederem serão eliminados do meio do seu povo”. (Levítico 18.29). Esta lista inclui adultério (Levítico 20.10)[2]. Pois então, porque Davi não foi punido com a pena capital? Por que era um rei? Por que houve favorecimento ilícito? Suborno dos juízes ou ameaças de morte para quem cumprisse a lei, como acontece em nosso País hoje? Não! Ele fora perdoado por Deus. Pecados mortais deixam de ser mortais quando Deus os perdoa. É tão grande e incomparável o perdão que envergonha quem o recebe. Na verdade, envergonha até quem acredita e conta essa história hoje.

Veja outras situações. A mulher samaritana tornou-se imediatamente uma apóstola de Cristo na cidade. Como viveu dali por diante: casada com o marido que não era seu? (João 4.18). Sobre a mulher adúltera nada se sabe depois. Voltou para o seu marido? Voltou para os pais, como era costume, se ainda os tinha? Viveu sem se casar novamente? Seus pais aceitaram-na de volta? E o rei Davi? Apesar de não ser monogâmico é apresentado no Antigo Testamento como tendo um coração inclinado para Deus. Jesus defendeu a pecadora que lhe ungiu os pés dizendo que “ela amou muito” (Lucas 7.47).

O fato é que não sabemos como perdoar sem crises e lutas. Não sabemos o que fazer com os recasados. Como encaixá-los em nossa teologia. Presumimos que o assunto sobre seguir Jesus seja ponto pacífico, mas na verdade temos dificuldades em viver o discipulado e suas implicações mais intensas e radicais. É difícil tornar visível a nossa compaixão pelos pecadores e partilhar o perdão procurando ser, ao mesmo tempo, radicalmente fiéis ao Pai em sentido positivo.

Apliquemos esse perdão sem limites ao caso dos divorciados recasados. Eles podem ser perdoados e o segundo casamento proibido? Seria esse um perdão tão pleno como o concedido ao rei Davi, que inclusive continuou a viver com a Bate-seba e teve o fruto desse relacionamento amado por Deus, o menino Salomão? (2 Samuel 12.24). Perdoar plenamente não é o desejo de quem almeja ver ou receber perdão? Não é também amado o filho, fruto abençoado de um segundo casamento de casais divorciados? Não há em nossas comunidades cristãos consagrados e abençoados que são filhos de casamentos “ilícitos” perante as Escrituras? Acredito que a seriedade do matrimônio e a gravidade do pecado de divórcio não excluam a possibilidade de perdão e admissão à plena comunhão da igreja.



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[1] A expressão “setenta vezes sete” tem sido interpretada pelos exegetas como uma inversão feita por Jesus das palavras de Lamec que queria ser vingado “setenta vezes sete” e não como Caim “sete vezes” (Gn. 4.15 e 24).

[2] Para a prostituição a pena não era a de morte, mas para o adultério sim

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